sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cineclubes e clubes

O Blog ganhou sua primeira colaboração externa. Este texto foi enviado e traduzido pelo Fausto Douglas Correa, doutorando na UNESP com a tese Cinematecas e cineclubes na periferia do capitalismo: a Seção Latino-Americana da FIAF no debate histórico sobre o conceito de cinemateca (1955-1968). Este artigo é de autoria de Laurent Mannoni - autor, por exemplo, do indispensável A grande arte da luz e da sombra: Arqueologia do cinema (São Paulo: Senac, 2003) - e foi publicado como verbete no Dictionnarie du cinéma mondial: mouvements, écoles, courants, tendences et genres (Éditons du Rocher. Jean-Paul Bertrand Éditeur. 1994. P.170-175). Ainda sobre o tema Cineclubes, Clubes de Cinema e Cinematecas, vale a pena conferir o site português O movimento dos cineclubes, que também tem artigos interessantes (e em português) sobre a História do cineclubismo em Portugal e no mundo.


CINECLUBES E CLUBES
de Laurent Mannoni (tradução de Fausto Douglas Correa)
Desfaçamos uma lenda: o termo cine clube não foi criado por Louis Delluc, em 1920. Em 14 de Abril de 1907, Edmond Benoit-Lévy, diretor da revista Phono-Ciné-Gazette, anuncia a fundação do primeiro ciné-club, instalado nº 5, Boulevard Montmartre, em Paris, na sede de um cinema Pathé e da futura sociedade Omnia. Este cineclube oferecia aos seus membros, um lugar de reunião, uma sala de projeção, uma biblioteca, um Boletim Oficial do Cineclube. Tinha por finalidade “trabalhar no desenvolvimento e no progresso do cinematógrafo de todos os pontos de vista”, mas “interditando toda discussão religiosa ou política”.
Esta primeira tentativa desaparece rapidamente. É preciso esperar o ano de 1920 para ver reaparecer, na imprensa, a palavra cineclube, com Louis Delluc e Charles de Vesme, que lançam em 14 de janeiro de 1920 Le journal du ciné-club Onze dias transcorreriam até eles criarem o Cineclube da França, “com a finalidade de agrupar os profissionais e os amantes do cinematógrafo, na capital e no interior, de maneira a lhes permitir uma reunião”. O jornal do cineclube se dirige aos habitués de cinema, e agrupa “uma elite de escritores se endereçando a uma elite de leitores”.
A primeira grande reunião do Cineclube da França ocorreu em 12 de junho de 1920, na sala Pépiniére-Cinéma. Emile Cohl falou sobre desenhos animados, seguido de André Antoine que debateu o “cinema de ontem, de hoje e do amanhã”, com projeções de filmes antigos. Foi um sucesso.
Entretanto, Louis Delluc deixa rapidamente O jornal do cineclube (Le Journal du Ciné-Club) para a Fumaça Negra. A revista deixa de circular em 11 de fevereiro de 1921. Este ano é rico em eventos. O termo cineclube está definitivamente lançado, assim como a moda de associações, clubes e grupos cinematográficos de todo gênero e de revistas independentes, onde aparecem os primeiros artigos teóricos e críticos. Trata-se de um fenômeno francês, e nenhum outro país – à exceção da URSS – conhecerá tal eclosão de debates estéticos em torno do cinema. Os Clubes foram uma parte muito importante do aparecimento das vanguardas cinematográficas francesas.
Em 6 de maio de 1921, Louis Delluc publicou o primeiro número de Cinéa, hebdomadário de grande qualidade que ele dirigiu apenas até novembro de 1922. Cinéa organizo matinês, e a primeira, em 14 de novembro de 1921, revelou aos franceses O gabinete do Doutor Caligari (1919) de Robert Wiene, o que sucitou debates polêmicos. Em 22 de janeiro de 1922, Louis Delluc ministra uma conferência sobre o Cinema, arte popular, no Colisée, acompanhado de Marcel L’Herbier, que apresenta seu filme experimental Prométhée…banquier.
O poeta italiano Ricciotto Canudo retoma de Louis Delluc a idéia de cineclube e, em 26 de março de 1921, Ciné-Journal anuncia a criação do Clube dos Amigos da Sétima Arte (CASA). Canudo quer “afirmar por todos os meios o caráter artístico do cinema, o cinema sendo irrefutavelmente uma arte, a sétima”. Ele queria assim “elevar o nível intelectual da produção francesa” e “colocar tudo em obra de modo a lançar ao cinema os talentos criadores, os escritores e os poetas”. Ele organiza com grande sucesso conferências e jantares mundanos (diante de um público “elegante e refinado”, lemos na imprensa), notadamente no Restaurante Poccardi ou em sua própria casa, no nº 12 da rua Quatro de Setembro. Suas teorias estéticas, por vezes um pouco obscuras, foram seguidamente objetadas por Louis Delluc, que não hesitava em combatê-las com humor e justeza.
Canudo acostumou-se a dar a suas conferências um brilho mundano que as de Delluc não tinham. Ele teve o mérito de lançar ao CASA personalidades de toda ordem: grandes realizadores de filmes comerciais (Henri Fescourt, René Le Somptier, Henri Pouctal, Léone Perret), cineastas de vanguarda (Marcel L’Herbier, Alberto Cavalcanti, Jean Epstein, Abel Gance e Germaine Dulac, sendo que os dois últimos foram vice-presidentes do CASA em 1921), artistas (Robert Mallet-Stevens, Fernand Léger), escritores e críticos (Leon Moussinac, Blaise Cendrars, Jean Cocteau) e comediantes (Éve Francis. Jacque Catelain, Jean Toulout, Gaston Modot,Yvette Andreyor), etc. Em junho de 1922, o CASA se instala no número 16 da Faubourg Montmartre, e oferece aos seus membros uma sala de projeção, um salão de chá, uma sala de leitura, uma sala de leitura: o velho sonho de Edmond Benoît-Lévy foi realizado. O CASA participou enfim do prestigioso Salão de Outono, entre 1921 e 1923.
Graças à ação dinâmica de Canudo, as conferências se multiplicam, da mesma forma que os clubes. Entre eles, é preciso citar Os amigos do Cinema (fundado em dezembro de 1921 pela revista Cinémagazine), o Cine-clube Bruxelano (primeira sessão em 5 de julho de 1921), o Clube de Faubourg (criado em 1922 por Léo Poldès), o Clube da Tela (criado em 1928 por Pierre Ramelot) e o importante Clube Francês do Cinema (fundado por Léon Moussinac em 1922 e dirigido por Léon Poirier).
De fato, o verdadeiro Cineclube, tal qual nos entendemos hoje em dia (“seção hebdomadária, apresentação de um filme por um crítico, discussão aberta entre os espectadores e o apresentador, entrada sob inscrição com carta de aderência”, segundo Jean Mitry), só aparece desta forma em 1925, com a Tribuna Livre do Cinema, criada por Charles Leger nos quadros da Exposição de Artes Decorativas. A Tribuna, da qual Jean Mitry foi secretário geral, foi freqüentada assiduamente por jovens apaixonados pelo cinema: Marcel Carné, Edmond Gréville, Jean George Auriol; Colette por lá aparecia de tempos em tempos.
Em 1925 igualmente aparece o Cineclube da França, nascido do CASA (Canudo morreu em 10 de novembro de 1923) e do Clube Francês do Cinema de Léon Moussinac. Em torno deste último, nos encontramos Léon Poirier, René Blum, Jacques Feyder e Henri Clouzot, diretor do museu Galliera. É este Cineclube da França que revela aos parisienses O encouraçado Potenkim, em 12 de novembro de 1926, no Artistic-Cinéma.
Para lutar contra a censura (os filmes soviéticos foram proibidos pelo chefe de polícia Jean Chiappre), Léon Moussinac decide criar Os amigos de Spartacus, em julho de 1927, com Jean Lods, Francis Jourdain, Paul Vaillant-Coturier, George Marrane e o apoio da associação comunista Bellevilloise. Eles compram e abrem, em 15 de março de 1928, o cinema do cassino de Grenelle, e lá apresentam A mãe e O fim de São Petersburgo, de Vsevolod Pudovkin, entre outros. O chefe de polícia Chiappre intervém; mas a breve influência deste clube sobre a vanguarda francesa foi considerável, tanto do ponto de vista artístico como do político.
Paralelamente a todos estes clubes e associações, salas especializadas, no mesmo espírito, se abrem: O Vieux Colombier, em 1924, o Studio des Ursulines, em 1926, ou o Studio 28, em 1928. Elas também sustentam um cinema não comercial com eficácia. Novas e notáveis revistas teóricas e estéticas vêem o dia, como a famosa Revue du Cinéma, em dezembro de 1928.

O advento do cinema falado marca o fim de um certo gênero de cineclubes intelectuais, aqueles que sustentavam apaixonadamente os filmes estrangeiros difíceis, ou a excepcional vanguarda francesa, que não pôde resistir à vaga dos filmes falados comerciais. Rapidamente alguns retomam o tempo da arte muda. Henri Langlois e George Franju, no início dos anos 30, freqüentam os cineclubes parisienses, únicos lugares onde era possível ainda ver as grandes obras de Fritz Lang, F.W Murnau ou D.W Griffith. Havia o Club 32, criado por Jacques Aubin e Jean-Charles Reynaud (1932), o Phare Tournant de Raymond Blot (1933), o Club de la femme de Lucie Derain (1934) e o Club Cedrillon de Sonika Bo, para as crianças (1932). Langlois, associado a George Franju e Jean Mitry, funda seu próprio cineclube, em outubro de 1935: é o Cercle du Cinéma, que promove sua primeira seção em dezembro, no número 33 da Champs-Élyssées. Lá se pode ver O gabinete do Doutor Caligari, A vontade da morte e A queda da mansão Usher: tantos filmes hoje salvos. Para Langlois, “trata-se antes de tudo de mostrar os filmes e não de discuti-los depois. Os debates não servem para nada”.
O Cercle du Cinéma retoma a tradição dos clubes dos anos 20. Ele ensina a linguagem cinematográfica – sem discursos, apenas pela exibição do filmes – a futuros cineastas, tal como Jacques Becker, Marcel Carné e Jean-Paul Le Chanois. Qual maior lição que um filme de Griffith dos anos na Biograph? Em setembro de 1936, Henri Langlois, George Franju, Jean Mitry e Paul-August Harlé transformam o Cercle em Cinémathèque Française, cuja enorme influência sobre a nouvelle-vague dos anos 50 é igualmente bem conhecida.
Em 1936 também aparece o Ciné-Club de Paris, de Jacques Loew e Jacques Aubin, depois o Club des Cinq, de Jean Nery e Robert Chazal. Um evento de importância é a criação por Jean Renoir do movimento Ciné-Liberté, com Henri Jeanson, Léon Moussinac, Calude Aveline, Louis Cheronnet (Germaine Dulac cria por sua vez o movimento Mai 36). Os aderentes do Ciné-Liberté participaram do financiamento de documentários sociais e do filme La Marseillaise, de Jean Renoir. As palavras de ordem do movimento, na febre da Frente Popular, eram as seguintes: “União pelas atualidades populares; união por produções de cooperativas livres e independentes; união pela livre distribuição dos melhores filmes sociais e dos filmes proibidos (interditados); união contra a censura burocrática; união pela defesa e pela renovação do cinema francês”. Um jornal foi editado: Ciné-Liberté. Tal tentativa lembra bem aquela dos Amis de Spartacus, e também, de forma um pouco mais distante, a da Cooperativa do Cinema do Povo, sociedade criada por anarquistas em 1913.
O renascimento dos cineclubes foi naturalmente interrompido pela Guerra. Mas, após a liberação nós assistimos novamente a uma eclosão espantosa. Em março de 1946, os seis cineclubes existentes (Cercle Technique de L’ecran; Ciné-Clube universitaire; Cercle du Cinéma; Ciné-Club Cedrillom; Ciné-Jeunes; Club Français du Cinéma) se agruparam sob a Federação Francesa de Cineclubes (FFCC), presidida por Jean Painlevé; ela contava em abril de 1946 com mais de 80 clubes e mais de 50.000 membros.
Em 1948, foram recenseados na França 150 cineclubes, agrupando aproximadamente 100.000 membros. Em Paris, aparecem os novos cineclubes Griffith, Cineum, Du Vendredi, 46, Renault, Air France, Volontaire, Île-de-France, etc.! A Revue du Cinéma reaparece, em sua capa amarela, graças a Jean George Auriol; nós redescobrimos, graças as virtudes do 16 mm, as obras primas de Jean Vigo, Robert Flaherty, Howard Hawks, D.W Griffith ou Carl Dreyer. André Bazin, ele mesmo um animador de cineclubes, considera como um dos eventos mais importantes do pós-guerra este desenvolvimento um pouco monstruoso, que ele compara à voga dos anos 20, analisado mais acima.
Do pós-guerra data igualmente a floração de novas federações: A Federação Internacional de Cineclubes (FICC, 1947); A União Francesa das Obras Laicas de Educação pela Imagem e pelo Som (UFO-LEIS, 1953, na tradição da Liga de Ensino, que possuía no domínio do Audiovisual uma sólida experiência, com a lanterna mágica, desde 1895); A Federação Lazer e Cultura Cinematográfica (FLECC, 1946, este movimento católico evocava ele também esforços pretéritos da Maison de la Bonne Presse em matéria de educação pelo audiovisual, em 1986), A União Nacional Inter Cineclubes (UNICC, 1958), etc. Nós contamos também as novas revistas de qualidade; Ciné-Club (1947, da Federação Francesa de Cineclubes), Image et son (1951, pela UFOLEIS, transformada em Revue du Cinéma), Cinéma 55 (1955, pela FFCC), Jeune Cinéma (1964, pela Federação Jean Vigo), etc.
A instalação progressiva da televisão em todos os domicílios, o aparecimento do magnetoscópio e de fitas de vídeo-cassete para locação provocam uma brusca baixa no fenômeno cineclube, e do cinema em geral. Milhões de espectadores, de hoje, assistem o Ciné-Club da Antenna 2 ou do France 3: “Pelo destino de uma ironia cruel, é no momento onde a palavra composta: cineclube tem sua maior popularidade que o movimento ele mesmo atravessa as maiores dificuldades frente à indiferença dos poderes públicos”, nota François Truffaut em 1981. Ele relembra igualmente que o movimento dos cineclubes, que se desenvolveu magnificamente no pós-guerra “foi vítima de seu próprio sucesso, pois dele nasceu uma forma de exploração popular e seletiva, que é a extensão de sua vocação: trata-se das salas de arte e de ensaio”. Estas salas, agora suficientemente numerosas em Paris, notadamente no Quartier Latin, propõe, com efeito, os clássicos e filmes raros, por um preço reduzido, e em boas condições de projeção, em geral. Elas alcançam um público muito amplo, do colegial ao aposentado.
Além do mais, nas salas de arte e de ensaio nóss encontramos cada vez mais “retrospectivas” e “festivais” bastante completos, organizados por instituições poderosas: o Museu D’Orsay, que se dedica ao século XIX, propõe todo ano programas inteligentes de filmes mudos, que levam um numeroso público de curiosos e de conhecedores (o Festival de Pordenone, na Itália, foi o primeiro a se dedicar unicamente aos filmes mudos, com grandioso sucesso). O Centro George-Pompidou oferece seus ciclos variados, acompanhado por publicações de catálogos eruditos.
As cinematecas são de fato as principais rivais dos cineclubes. Desde suas aparições, elas ensinam o cinema junto aos jovens, da maneira mais simples, projetando os filmes sem debates nem comentários, a um preço muito baixo. Lembremo-nos, a Nouvelle-Vague nasceu da cinemateca de Henri Langlois, e esta continua em nossos dias a formar ou a influenciar cineastas (Wim Wenders ou Leos Carax, por exemplo, são dois filhos da Cinemateca). Em Paris, a Cinemateca Universitária exibe igualmente filmes bastante raros, os primitivos ou de cavação do cinema francês dos anos 30-50, pobres esteticamente, mas ricos em dados sociológicos. Enfim, a Cinemateca de Toulouse, com arquivos interessantíssimos, anima encontros e publica excelentes revistas.
Mas os museus e as cinematecas conduzem os cinéfilos, amadores e historiadores a um material bruto: o filme. Ele cai como um meteoro sobre a tela, sem nenhuma indicação histórica ou estética. Mais do que nunca, os cineclubes parecem aqui indispensáveis: eles podem propor debates, explicações sobre tal filme importante; eles nos parecem a anti-câmara obrigatória das cinematecas ou das salas especializadas.
Assim, do ponto de vista histórico, os cineclubes devem continuar a sustentar as obras contemporâneas de vanguarda. Um organismo como a Coordenação das Federações de Cineclubes exibe em 16 mm filmes de Peter Greenaway, de Jerzy Skolimowski, Krzystof Kieslowski, da mesma forma que as obras de Philippe Garrel, Jean-Luc Godard ou Jacques Rivette; obras importantes e ambiciosas, que talvez não conheceram jamais uma passagem na tela pequena [1] e que mereceriam certamente serem descobertas pelas novas gerações.
Os cineclubes de nossos dias têm deste modo um papel essencial a cumprir no ensino da história, da cultura e da linguagem cinematográfica, no domínio importante da educação do olho. Nos geralmente estamos de acordo sobre a utilidade dos cineclubes de liceus, colégios, estudantis. No entanto, o cineclubismo intelectual dos anos 20 e 30 desapareceu totalmente hoje em dia e ninguém parece sonhar em fazê-lo renascer. Não temos mais gente como Louis Delluc, Ricciotto Canudo, Jean Mitry, ou André Bazin. Existe aqui a evidencia de uma lacuna a ser combatida, uma ação a exercer, um lugar a ocupar. O surgimento atual, em diversas cidades do interior, de Clubs Cinéma que fazem – sem a etiqueta – tudo o que os cineclubes faziam outrora, prova que a exigência implantada por eles ainda vive.
[1] Circuito “fechado” de debates, estudo. Dentro da proposta de cineclubes debatida aqui. Não se trata de “tela pequena” como sendo TV ou vídeo. N do T.
Bibliografia:

ABEL, Richard. French Cinema, The First Wave. Princeton University, 1984.
DELLUC, Louis. Ècrits cinématographiques, éditon etablie par Pierre Lherminier, Cinémathèque Française, Éditions de L’Etoile, 1985-1990.
MITRY, Jean. De l’origine des ciné-clubs, dans 1895, bulletin de l’Association française de recherche sur l’Histoire du cinéma, nº3, 1987.
PINEL. Introduction au ciné-club: histoire, théorie, pratique. Éditions ouvrières, 1964
Institut Pédagogique National, Les ciné-clubs, 1964
MYRENT, Glenn. Henri Langlois, Denoël, 1986.

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