quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sobre o post anterior

Não imaginei que o texto sobre a Cinemateca Brasileira e o afastamento de Carlos Roberto de Souza da curadoria da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso teria uma repercussão tão grande. Através, sobretudo, de links no facebook, o artigo foi lido mais de 800 vezes nos últimos dois dias, batendo o recorde de acesso no blog.
Além dos comentários feitos no próprio post, vários colegas me enviaram mensagens pessoais comentando o teor do texto ou compartilhando a indignação pelo ocorrido. O fato de Carlos Roberto ser uma pessoa tão querida e, principalmente, por este ser apenas mais um de uma série de acontecimentos absurdos e injustificáveis que vem acontecendo na Cinemateca Brasileira talvez sejam os motivos do post ter dado voz a um sentimento mais amplo.
No último Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais, realizado em Ouro Preto, ano passado, eu conversei longamente com o saudoso Gustavo Dahl sobre a Cinemateca Brasileira, uma vez que ele era, inclusive, presidente do Conselho da instituição. Sobre os meus arroubos de indignação no blog, ele gostava de dizer, usando uma metáfora bem ao seu gosto e ao seu tempo de juventude, que não adiantava queimar a bandeira dos Estados Unidos em frente à Embaixada Americana, se ninguém tinha condição realmente de invadir com armas o país mais poderoso do mundo. Pragmaticamente, aquilo seria inútil, quando não prejudicial.
O que ele queria dizer era que a Cinemateca Brasileira estava de tal modo "blindada" - fosse pelos favores que prestava, pela subserviência do SAv e MinC, ou pelo poder da SAC - que reclamar, protestar ou se rebelar de nada adiantaria. Estando à frente do CTAv na época, Gustavo falava na posição de estrategista e político nato que era, tentando sustentar a delicada posição de uma instituição carioca que tentava voltar a investir efetivamente na preservação audiovisual. "Delicada" pois o CTAv possivelmente significaria um contraponto ao monopólio da área pela Cinemateca, ao mesmo tempo em que dependia de recursos do Governo que vinham através da própria Cinemateca (isto é, da Sociedade de Amigos da Cinemateca).
Lamentavelmente Gustavo se foi e perdemos uma das únicas pessoas que podia resolver, de forma politicamente hábil, a situação cada vez mais absurda de existir uma ditadura na preservação audiovisual no Brasil. Entretanto, continuo discordando, como o fiz em Ouro Preto, do que ele me dizia. Queimar bandeiras na rua tem importância, sim. Ficar em casa, calado e imóvel, é muito pior.
Entretanto, voltando aos tempos aos quais Gustavo se referia em sua metáfora, época de ditadura e abuso de poder, me lembro muito de Plínio Marcos, "autor maldito" que estudei em minha dissertação de mestrado. Ele dizia que a luta contra as arbitrariedades do governo se tornaram muito mais difíceis nos anos 1970, a partir do momento em que artistas passaram a depender cada vez mais de verbas e subsídios do próprio governo, ficando, portanto, comprometidos e incapazes de assumir livremente suas posições. Sob o mesmo contexto, especificamente em relação à área teatral, o historiador Yan Michalski escreveu, no mesmo tom, que os artistas "evitam participar da luta mais abrangente contra a censura, embora cada um deles, no momento de ser pessoalmente prejudicado, não hesite em botar a boca no mundo".
Ou seja, sem mobilização não acontece nada.

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