terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O último Diorama de Daguerre

A história do que se convencionou chamar de "pré-cinema" é fascinante. Ela nos leva, inclusive, a questionar esse nome para descrever as centenas de práticas, inventos, atrações, diversões e meios de comunicação que antecederam a invenção do cinema e que mantinham alguma relação com ele, através do uso de luzes, projeções, telas, ilusões de movimento etc.
Se a fotografia é considerada um dos principais precursores do cinema, um dos principais inventores por trás dessa criação, o francês Louis Daguerre (1787-1851), é menos conhecido por uma outra invenção, talvez tão popular e engenhosa quanto o seu daguerreótipo, que é o Diorama.
O nome Diorama assemelha-se a Panorama, revelando sua conexão com essa diversão. Antes da palavra se popularizar como sinônimo de vista ou paisagem, ela foi criada para batizar uma invenção do irlandês Robert Barker (1739-1806): uma grande pintura circular que ocupava uma rotunda e permitia que os visitantes (após pagarem um ingresso) ingressassem e, imersos nessa imagem que ocupava 360 graus de sua visão, pudessem sentir-se viajando sem sair do lugar, conhecendo outros lugares e tempos - tal qual o cinema faria posteriormente.
Panorama do Tirol, em Innsbruck (Áustria), que visitei em abril de 2013. Um dos poucos existentes em exposição.
 Como o Panorama, o Diorama também era uma pintura de grandes dimensões e profusão de detalhes que parecia real, embora não fosse circular. A novidade estava nos efeitos causados pela mudança na origem da iluminação, que causava impressões variadas, fosse de anoitecer ou amanhecer, ou mesmo de movimento de personagens. Através desses efeitos, a pintura parecia dotada de vida, adicionado um efeito temporal àquelas imagens que de tão reais pareciam vivas, diferente da imobilidade do panorama cujo realismo estático às vezes causava uma impressão contrária (de paralisia, morte).
Como atrações caras, de grandes dimensões e montagem trabalhosa, poucos Dioramas - assim como os Panoramas - sobreviveram. Geralmente as rotundas onde eles eram montados tinham que trocar frequentemente de programa (tal como aconteceria com os cinemas) para continuar a atrair os espectadores.
Entretanto, um único Diorama de Daguerre sobreviveu e está passando por uma longa e trabalhosa restauração. Realizado para a igreja da cidade de Bry-Sur-Marne em 1842, apesar de considerado um monumento histórico desde 1913, ele passou por maus bocados ao longo do século XX. Sua restauração vai permitir que possamos finalmente ver um exemplo de uma das mais importantes formas de entretenimento do século XIX.
Os dioramas foram tão populares que, como os panoramas, seu nome passou a designar várias outras coisas, como, por exemplo, painéis pintados com estátuas à frente, isto é, uma mistura de pinturas bidimensionais com objetos tridimensionais, para demonstrar determinado cenário em determinada época. Muito comum até hoje em museus - servem para mostrar, por exemplo, como era a vida na Era Jurássica - passaram a ser comumente conhecidos também como dioramas.
Para saber mais sobre o Diorama de Bry-Sur-Marne, veja essas reportagens (link e link).

Efeito de dia no diorama iluminado pela frente
Efeito noturno no panorama quando iluminado por trás

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